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sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Discriminação sexual. Massa Crítica Feminina no Brasil.


Enne Maia: "Era essencial ter um espaço para discutir ideias e ações relativas a bike e género"
Enne Maia: “Era essencial ter um espaço para discutir ideias e ações relativas a bike e género”

Situações de assédio sexual durante os passeios da Massa Crítica da cidade brasileira de Belo Horizonte levaram mulheres a afastarem-se da comemoração mensal do uso da bicicleta e criarem uma Massa Crítica Feminista na capital do Estado de Minas Gerais, situação que já ocorre noutras regiões do país.
Os relatos contam que nos passeios era comum as ciclistas ouvirem comentários machistas. “Não vou ser ultrapassado por uma mulher!”, “Ser ultrapassado por mulher é humilhação total”,“Vem pra massa, moça, você é gata demais para estar dirigindo” são alguns dos exemplos apontados no texto publicado na página eletrónica “Vá de Bike”.
As situações acontecem na terceira maior metrópole do Brasil, a capital do Estado de Minas Gerais, onde a cidade, fora a periferia, concentra 2,5 milhões de pessoas. A página da Massa Crítica de Belo Horizonte no Facebook reúne 5.280 membros.
A solução encontrada pelas mulheres que se sentiam discriminadas foi criarem o seu próprio grupo para continuarem a desfrutar do prazer de pedalar sem ouvir desabafos de cariz sexual e machista. E alargaram o grupo a lésbicas, bissexuais, transsexuais, negras, gordas e todas as minorias que se sentiam de algum modo olhadas de lado no grupo convencional.
“Fiquei sabendo do Massa Crítica Feminista dentro do grupo da Massa Crítica no Facebook. Depois de várias deliberações sobre género e casos de abuso, era essencial ter um espaço para discutir ideias e ações relativas a bike e género”, conta a estudante de arquitetura Enne Maia, 28 anos, acrecentando: “Acreditamos e queremos falar sobre empoderamento feminista através de ação direta com a bicicleta”.
Foto: Thamires Siqueira
Os exemplos de descriminação em relação às mulheres que andam de bicicleta em Belo Horizonte abundam. Janaina Rochido, 35 anos, jornalista, negra, com o cabelo naturalmente crespo, conta: “O que sempre acontece quando pedalo ‘à paisana’, sem capacete, com o cabelo solto, com roupas comuns, sou olhada como uma criatura exótica”.
Barbara Aouaghi, 35 anos, professora de artes, conta que além do género, é comum ser violentada pela sexualidade. “Uma vez que um cara me chamou de ‘sapatão’ e outra o cara cantou uma música do Cazuza”. “Eu acabei desenvolvendo minhas técnicas de auto defesa com o tempo”, revela.
Uma ciclista atingida relatou o caso, que se passou com um rapaz, aparentemente inexperiente a andar de bicicleta: “Na Massa, quando estávamos passando pela [rua] Hermilio Alves, eu dei uma acelerada. Um dos participantes me ultrapassou falando: não vou ser ultrapassado por uma mulher!’”. O ciclista em questão primeiro disse estar brincando, mas depois tentou desconversar: “ao invés de ficar discutindo, vamos falar de coisa boa?”, propôs o jovem.
Outros ciclistas insistiram que repensasse seu comportamento, mas ele recusou: “A mulher que não aceita isso: foda-se o dela. Sinto muito, você está de ‘criancice’”. E ainda ameaçou: “se aparecer na minha frente, vou mandar para ‘aquele lugar’ sem dó, porque estou ficando com raiva”.
“A ideia da Massa Crítica Feminista [já com mais de 200 membros] é combater a violência e acolher mulheres que pedalam para que a bicicleta seja mais presente no quotidiano delas e que elas próprias sejam vistas como sujeitas do trânsito. Janaína Rochido conta como essa organização entre mulheres é necessária: “pedalar juntas é questão de segurança, passa confiança uma para a outra, é troca de ideias, de experiências, é ocupar um espaço importante. Nesses tempos bicudos, ficarmos juntas, seja no pedal, na rua, ou no bar, é questão de sobrevivência em vários sentidos”, lê-se no texto.
MM

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