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segunda-feira, 12 de julho de 2021

Fancy Women Bike Ride

 Chama-se Fancy Women Bike Ride e a ideia surgiu na Turquia: juntar um grupo grande de mulheres, aperaltadas com as suas melhores roupas, para pedalarem em conjunto.

Daí passou para um evento anual em mais uma centena de cidades.

Lisboa junta-se este ano.

Chama-se Fancy Women Bike Ride e a ideia surgiu na Turquia: juntar um grupo grande de mulheres, aperaltadas com as suas melhores roupas, para pedalarem em conjunto nas suas bicicletas floridas. O primeiro passeio foi organizado em 2013 através do Facebook e foi um sucesso com 500 participantes na cidade de Izmir. Daí passou para um evento anual, uma celebração da bicicleta e também da mulher, e passou a realizar-se em mais uma centena de cidades. Lisboa vai juntar-se oficialmente este ano.

Catarina Cabral e Sheyla Ventura conheceram-se por causa da bicicleta… e do Twitter. Em 2020, Catarina tinha encontrado uma notícia sobre a Fancy Women Bike Ride e partilhado com Sheyla, que acabou por organizar um encontro informal com um pequeno grupo de amigas. Este ano, foi desafiada por uma das fundadoras do movimento, Pinar Pinzuti, a fazer algo a sério. Falou com Catarina para ajudar na organização e juntas abraçaram a iniciativa. A data está escolhido: 19 de Setembro, o “dia oficial” da Fancy Women Bike Ride (os passeios realizam-se no mesmo dia nas várias cidades), pelas 16 horas; e também já têm páginas oficiais no FacebookTwitter e Instagram, e para o evento deste ano.

Nem Catarina nem Sheyla sabem ainda bem como vai ser o passeio. Sabem que terá cerca de cinco quilómetros (uma “exigência” do movimento) e querem que seja numa zona plana da cidade e com boa oferta de ciclovias, para que possa ser acessível a mulheres com menos experiência a pedalar. Querem também que haja oferta de bicicletas partilhadas da GIRA por perto, para que quem não tenha uma “amiga” de duas rodas se possa juntar na mesma.

Foi num pequeno encontro no jardim de Santos que nos encontrámos com Sheyla e Catarina enquanto trocavam ideias e definiam o percurso. Pensaram num trajecto ao longo do Cais do Sodré até Alcântara, passando por ali, mas ainda está tudo em aberto. Por agora, é apenas uma hipótese, mas estão seguras de que vão arranjar algo. Entretanto, Sheyla já anda a pensar na playlist; quer ter uma banda sonora para o evento e uma pequena coluna na sua Gigi – como baptizou a sua bicicleta. Catarina lança a ideia de poderem disponibilizar o link previamente para que os participantes possam adicionar as músicas aos seus telefones e quiçá adicionar sugestões.

Este é para ser um passeio fancy, por isso, a ideia é que todas as participantes se aperaltem com os seus vestidos e decorem as suas bicicletas com flores, balões e outros elementos coloridos. Não estarão ligadas a nenhuma associação ou a partidos políticos – o intuito, dizem, é ser apenas um passeio entre mulheres, um encontro para se divertirem e onde possam conhecer novas pessoas além das bolhas do Twitter ou da Massa Crítica, por exemplo – senhoras e jovens mulheres que também pedalem ou que estejam a começar a pedalar, e (ainda) não andem por esses circuitos. Homens serão permitidos mas só na fila de trás.

Um mundo muito masculino

A utilização da bicicleta não depende do género, apesar de estatisticamente existirem mais utilizadores masculinos a utilizar este meio de transporte. Segundo um levantamento realizado pelo Instituto Superior Técnico em Lisboa, em 2020, com base em contagens manuais realizadas em diversos pontos da cidade, constatou-se que 25% das pessoas que utilizam a bicicleta são mulheres“aproximando-se do valor médio de outras cidades europeias”

O relatório detalha:

“A distribuição espacial da proporção de ciclistas do sexo feminino denota alguma relação com a presença de vias segregadas. A baixa presença de mulheres a circular de bicicleta em locais sem infraestrutura ciclável poderá ser interpretada como um indicador de menor segurança de circulação em bicicleta. No entanto, será de assinalar uma considerável presença feminina em locais sem infraestrutura ciclável tais como: Av. Almirante Reis, Benfica e Lumiar, Rato, Martim Moniz, Rossio e Terreiro do Paço.”

“O sentimento de conforto em conjunto com a percepção de segurança na utilização da bicicleta, como modo de transporte nas infraestruturas viárias, tem uma maior influência no uso da bicicleta por parte das mulheres”, escreve Mário Meireles, engenheiro, presidente da Braga Ciclável, activista pela mobilidade urbana em bicicleta, na tese de doutoramento que apresentou no ano passado. A presença de mulheres a utilizar a bicicleta como meio de transporte numa cidade tende a indicar que a infraestrutura ciclável dessa cidade é segura. “Deste modo, uma baixa utilização da bicicleta como modo de transporte, pelas mulheres, numa determinada cidade pode ser um indicador de uma infraestrutura desadequada à utilização da bicicleta”, escreve Mário Meireles, apoiando-se na literatura.

O investigador detalha que “as mulheres são normalmente associadas a grupos com maior sensibilidade para os perigos e predispostas a correr menos riscos que ponham em causa a sua integridade física”A literatura “(…) refere que quando o número de mulheres a utilizar a bicicleta numa cidade é reduzido, isso significa que a cidade não garante a necessária segurança, conforto e comodidade para se pedalar”.

Em Lisboa, o número de mulheres a utilizar a bicicleta tem vindo a aumentar, o que pode indiciar que a cidade está num bom caminho em termos de infraestrutura. Ainda assim, quem pedala na cidade são sobretudo homens – 75%, de acordo com as contagens do Instituto Superior Técnico citadas em cima. Este facto, comum a outras cidades, levará a que as mulheres que usam a bicicleta como meio de transporte sintam vontade de se encontrar e de construir uma comunidade forte, como forma de reivindicação da sua pertença às ciclovias.

Além da Fancy Women Bike Ride, que agora chega a Lisboa, também é organizada por cá uma cicloficina só de mulheres (todas), pessoas trans e não-binárias; chama-se FEMINA e procura ser “um espaço seguro, de ambiente descontraído, de igual para igual, e sem preconceitos”“Somos mulheres, pessoas trans e NB, não-cis. Sabemos reparar bicicletas, temos força suficiente para apertar um parafuso, e não gostamos que nos tirem as ferramentas das mãos”, é uma das frases que se lê no manifesto da FEMINA. Esta cicloficina quer abrir portas uma vez por mês, a uma quinta-feira, num local a definir e anunciar nas redes sociais.

MM

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