Dezanove de Novembro de 2013.
Enquanto os olhos em Portugal estavam sobre o jogo de futebol que ditava o apuramento para o Mundial, passava-se uma pequena grande batalha na Dinamarca: duas frentes políticas para as eleições regionais e locais enfrentavam-se – a esquerda e a direita.
Um jogo de xadrez político em plena Copenhaga, ainda governado pela rainha bicicleta mas visto de perto pelo rei automóvel, com os peões como parte ativa no processo eleitoral.
De um lado do tabuleiro, estavam os partidos que procuram mais condições para o automóvel e, do outro, os que continuamente promovem a bicicleta e os transportes públicos.
Era a batalha das duas contra as quatro rodas, tal como publicitaram vários jornais locais.
Em causa estava a luta pelo departamento de ambiente e mobilidade, que podia pender para o partido Venstre (que apesar de significar “esquerda”, é um partido de direita) e um partido de esquerda – o Enhedslisten.
Todas as previsões apontavam para este departamento ficar para um destes dois partidos, situados em pólos opostos nas questões de mobilidade, sobretudo.
Este departamento é o que regula, entre outras, todas as ações em Copenhaga ligadas à mobilidade ciclável e tem uma influência elevada no dia-a-dia dos habitantes da cidade.
A expectativa é grande.
Eis como tudo aconteceu nessa noite.
À medida que as eleições decorrem, as negociações pelos departamentos fazem-se até à última – muito para além do tempo destinado.
Pelo meio, muita ação de bastidores, o que torna o processo político algo interessante.
Quando saem os primeiros resultados, as previsões são de que o Venstra ficará com o pelouro da mobilidade.
O futuro é incerto, numa cidade famosa sobretudo pela sua cultura da bicicleta. As primeiras notícias online confirmam isso mesmo: Copenhaga terá um departamento da mobilidade orientado para o automóvel.
Do outro lado, o jogo de Portugal já acabou há algumas horas.
Portugal no futuro irá ao Brasil e, segundo as previsões, Copenhaga caminha para o passado onde o automóvel quase tomou conta da cidade.
Há políticos a congratularam-se por vitórias provisórias ao mesmo tempo que outros admitem um fracasso eleitoral.
E, num segundo, tudo muda.
As primeiras previsões avançadas pelos jornais, admitem um erro nos cálculos.
Uma mudança de última hora em mais do que um departamento, acabou por ditar que o Enhedslisten ficaria responsável pelo pelouro de ambiente e mobilidade.
Congratulam-se os que preferem a continuação de políticas de mobilidade ciclável, que tanto torna Copenhaga uma cidade famosa.
A rainha bicicleta continuará a imperar.
Mas todo este caso apresenta um lição muito importante:
Copenhaga não se veste à prova de carro. Se num dos principiais núcleos cicláveis do planeta existe vulnerabilidade perante a influência do automóvel, o mesmo pode acontecer com qualquer outra cidade.
Baixar a guarda significa retroceder para a hegemonia do automóvel.
Cheque mas não cheque-mate.
Em: http://pedais.pt/o-dia-em-que-copenhaga-esteve-perto-de-deixar-de-ser-a-cidade-rainha-das-bicicletas/
MM
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