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segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Estradas solares: uma alternativa sustentável?

França planeja instalar painéis solares sobre mil quilômetros de estradas, o que poderia gerar energia para 5 milhões de pessoas. Especialistas discutem eficácia e possíveis desvantagens da tecnologia.

Painéis com células fotovoltaicas sobre estradas para a produção de energia. Uma visão para o futuro ou pura ficção científica?
Na França, a ministra do Meio Ambiente, Segolène Royal, anunciou recentemente planos de instalar mil quilômetros de painéis solares fotovoltaicos em vias do país nos próximos cinco anos.
Essa não será a primeira vez que o conceito é testado. Na Holanda, uma ciclovia de 70 metros teria superado expectativas ao produzir mais de 3 mil kilowatts/hora de eletricidade – o suficiente para abastecer uma família por um ano.
A ideia é usar superfícies que já existem, como vias públicas e estacionamentos, para a instalação de painéis solares. "Se usarmos lugares como ruas, isso significa que não precisaremos usar áreas na natureza ou campos", disse Donald Müller-Judex, chefe da Somove, empresa que quer ser a primeira a introduzir painéis solares nas vias públicas alemãs.
A União Europeia tem 10,5 milhões de quilômetros de estradas – 650 mil quilômetros somente na Alemanha. São vários quilômetros que poderiam ser usados para captar a energia do sol. Conforme relatos da mídia, a França está planejando a instalação de painéis solares nas vias como parte de uma iniciativa mais abrangente de "energia positiva", que visa ao abastecimento de residências com energia renovável.
Tráfego intenso pode atrapalhar o rendimento das células fotovoltaicas
Todas as vias podem ser utilizadas?
Nem todas as vias são ideais para o uso da tecnologia. Por exemplo, rodovias de tráfego intenso não oferecem condições ideais, porque os carros acabam cobrindo a superfície, evitando que células fotovoltaicas captem a luz do sol.
Craig Morris, autor do livro Energy Switch (Mudança de Energia, na tradução livre) e colaborador do blog alemão Energiewende ("Transição Energética"), disse à DW que essa questão, na verdade, poderia ser um problema para a aplicação da alternativa em qualquer rodovia. "O sombreamento acaba com a energia solar, e muito provavelmente você terá sombra se houver carros."
Müller-Judex concorda, mas diz que as rodovias não serão usadas para a instalação de painéis solares. É preferível usar pequenas vias entre vilarejos e em áreas industriais. "Procuramos lugares com menos tráfego e grande quantidade de sol", diz.
Qual o potencial de produção de energia?
A ideia é nova, e, por isso, ainda está em teste. Mas as autoridades francesas estimam que mil quilômetros de vias com painéis solares sejam capazes de gerar energia suficiente para abastecer 5 milhões de pessoas – 8% da população francesa.
Müller-Judex acredita que a implantação de painéis nas vias provavelmente seja menos eficiente que parques solares. Entretanto, estima-se que 100 kilowatts de energia poderiam ser produzidos por ano em cada metro quadrado de "estrada solar". "Trinta metros quadrados poderiam abastecer uma família ou um carro elétrico durante um ano, por 11 mil quilômetros", estima Müller-Judex.
Inclinação pode significar um desafio importante para painéis solares em estradas
Quais são as desvantagens?
Morris mostra ceticismo quanto à iniciativa. O fato de os painéis ficarem completamente na horizontal, deitados no solo, faria com que não captassem a energia que geralmente podem captar em parques de energia solar ou mesmo em telhados de residências, diz. "Eles deveriam ficar inclinados num ângulo de 30 graus."
Outro desafio seria manter os painéis limpos e funcionando, além de garantir que eles teriam como resistir a veículos dos mais variados portes. "Nós não dirigimos sobre vidro por uma razão: não é uma boa superfície para estradas. Já se pensou bastante sobre a superfície ideal para rodagem", diz Morris.
Mas a empresa espanhola Colas estaria construindo as vias na França com uma inovação tecnológica: a Wattway. A empresa informa em seu site que superou a questão da inclinação com células inseridas em camadas sobrepostas, que garantem resistência e aderência aos pneus.
Müller-Judex ressalta que a questão da limpeza dos painéis também está sendo analisada. "Estamos desenvolvendo uma tecnologia especial para limpar a superfície dos painéis. São químicos que destroem micropartículas, que são, então, levadas pelo vento ou pela chuva."
Instalação de painéis de captação em estradas deve custar mais do que em telhados
E os custos?
O preço é citado como um ponto-fraco significativo do projeto. Instalar "estradas solares" certamente é mais caro do que instalar vias de asfalto. No entanto, o preço exato ainda não está claro. Müller-Judex estima que cada painel vá custar cerca de 200 euros por metro quadrado – um pouquinho mais do que instalar painéis em um telhado. Mas ele espera que o preço diminua.
"Acho que um dia teremos o mesmo preço de outras tecnologias. Em 25 anos, será muito mais barato do que uma estrada normal", diz. "'Estradas solares' serão rentáveis. Precisamos de tempo para desenvolver um mercado."
Morris mostra preocupação quanto à possibilidade do projeto dar errado, porque isto poderia provocar impacto negativo em iniciativas futuras com energia solar e outras energias renováveis.
Mesmo que Müller-Judex admita que não ainda não é certo se a ideia faz sentido do ponto de vista econômico, ele acha que a sociedade deveria dar chance a todas as alternativas. Painéis instalados em telhados – que têm relativo sucesso hoje em países como a Alemanha – também já foram uma tecnologia experimental.
"Estamos tentando melhorar o conceito a cada novo passo. Scredito que um dia teremos um bom produto", conclui.
MM

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