Em busca da receita pronta
Se existe um assunto que nunca vai cessar é a busca por uma receita para fazer o Bike Fit Caseiro. Após a publicação do Artigo “Fazendo seu próprio Bike fit?” vários foram os e-mails recebidos. Dentre os diversos assuntos abordados destaca-se justamente a busca por essa receita.
Perguntas do tipo: é verdade que a ponta do joelho tem de ficar alinhada com a ponta do pé? É correto que o guidão tem de esconder o cubo da roda dianteira quando olhamos de cima? Se eu medir a distância entre o guidão e selim pelo tamanho da meu cotovelo até a ponta dos dedos está correto? Nesse momento é preciso enfatizar mais uma vez: “não existe receita pronta, nem mesmo truques e dicas”. Um bom Fitter possui técnicas baseadas em estudos científicos que adotam como parâmetros a aferição de ângulos formados por pontos anatômicos específicos. Esses ângulos vão variar de acordo com as distâncias entre esses pontos quando se compara dois indivíduos. Somente assim é possível encontrar o perfeito posicionamento, onde é aproveitado o máximo de energia na pedalada obtendo o máximo em conforto.
Fora isso o que temos são mitos e lendas que de tanto serem repetidos, acabam tornando-se verdades.” Com a advento da
internet e do Ctrl+C/Ctrl+V essas receitas mirabolantes se difundiram entre os ciclistas de tal maneira que com certeza você já utilizou pelo menos uma dessas técnicas ao menos uma vez na vida.
O que a maioria do ciclistas querem saber é: “Existe uma maneira correta de ajustar a bike sem consultar um Fitter?”
A resposta é simples. Ajustar a bike sem consultar um Fitter é possível sim. Difícil será você saber se sua bike realmente esta no posicionamento correto ou não. Será difícil inclusive saber se está utilizando o tamanho correto de quadro ou não. O simples fato de viver com essa dúvida faz com que toda vez que venha a sentir algum desconforto não saiba responder se tudo não passou de um breve desconforto ou se existe algo que pode ser melhorado no seu posicionamento.
Sabe quando você sai para pedalar com seus amigos e justamente naquela subida, você assiste todos eles dispararem na sua frente e ao chegar ao topo todos param para assistir você completar a subida. Nesse intervalo de tempo você fica pensando o que está errado. Será que tenho de trocar o grupo de marchas? Será que essa bike está muito pesada? Será que não estou alimentando direito? Esse tempo é quase um purgatório onde você se martiriza procurando respostas para a sua falta de rendimento. Por várias vezes os colegas atribuem a falta de rendimento a um ajuste de posição e até mesmo dão dicas de como melhorar. O grande problema é que cada um dá uma dica diferente do outro. Um diz: “aumenta a altura do selim” o outro diz: “tem é que abaixar” um terceiro interrompe argumentando: “seu quadro é que está grande pra você.” Você em meio a esse turbilhão de dicas e sem saber o que fazer recorre ao seu mecânico de preferência e que por sinal pedala a mais de vinte a anos e que já venceu várias provas de speed ou mountain bike e pede que ele ajuste pra você.
E nesse ponto é preciso fazer um parênteses em defesa desses profissionais. Quando eles ajustam o seu posicionamento a seu pedido, eles estão lhe oferecendo o que eles tem de melhor. Recebo constantemente em meu estúdio atletas que após terem suas bikes ajustadas reclamam que o mecânico “tal” fez errado. Mas ele não é Fitter, ele é mecânico que pedala a vários anos e que por meio de tentativa e erro conseguiu encontrar um ajuste de posicionamento que lhe oferece conforto. Dentro de seus conhecimentos acredita que esse posicionamento seja o ideal para qualquer pessoa. E se o ajuste não fica bom, ele não faz isso por maldade, apenas repassa o que julga ser o correto dento do seu entendimento.
O que acontece é que o melhor posicionamento para ele não é o melhor posicionamento para você. E nem mesmo ele tem certeza que aquele posicionamento é o melhor para si próprio, apenas não se sente incomodado. Para uma análise mais profunda precisamos saber que inclusive o posicionamento de uma mesma pessoa em uma bike de estrada é diferente do posicionamento de uma mesma pessoa em uma Mountain Bike. E até mesmo bicicletas da mesma modalidade apresentam geometrias diferentes, o que faz com que o Fit da bike altere para uma mesma pessoa. Mas isso vamos abordar em um novo tópico.
Vamos fazer uma analogia para entender melhor. É possível construir uma casa sem consultar um engenheiro? Claro que sim, e é até comum vermos pessoas sem nenhuma formação em construção civil construindo e vendendo casas. Mas minha pergunta é: Existe diferença entre essas duas casas? Sim e as diferenças são enormes.
A primeira a ser citada é a existência de um projeto onde se algum dia você precisar modificar qualquer parte da casa basta consultá-lo para saber onde passam os canos, a fiação elétrica, as colunas de sustentação, a rede de esgoto e assim por diante.
Outra fundamental é que ao contratar um engenheiro, caso algo venha a acontecer, você tem onde recorrer. Esses profissionais são filiados a um conselho profissional que regulamenta, registra e fiscaliza o profissional. Ao contratar um engenheiro você tem a segurança de que essa pessoa sabe o que está fazendo.
Num primeiro momento você pode pensar: “Que bobagem, existem tantas casas sem projetos que são muito boas”. Talvez quando se avalia o todo pode até parecer que não possuem diferenças, mas com o tempo aparece uma trinca aqui outra ali, pelo fato de não ter sido feita uma análise do solo com o respectivo cálculo de quantos quilos o terreno é capaz de suportar e ao ceder ao peso da construção as paredes criam fissuras. Quando chove as goteiras aparecem. Ao lavar um quintal a água empoça toda em um canto por não ter sido projetado uma descaída para escoamento. E assim por diante. Mas isso só aparece com o tempo.
Mas o que isso tem a ver com Bike Fit? Tudo. A idéia é a mesma.
Quando você faz o Bike Fit com um Fitter (profissional em bike fit) você tem a certeza de que a posição ajustada é a melhor para o seu conforto e aproveitamento de energia, isso sem dizer que ao final de uma prova ainda restará fôlego suficiente para investir no sprint da chegada. Quando não o faz, aparentemente está tudo bem, mas com o tempo o ajuste inadequado aparecerá em formas de inflamações e lesões que o afastará do esporte por um tempo.
O fato de o Fitter conhecer muito bem a Biomecânica do esporte, poderá assim planejar o posicionamento do atleta ao longo da evolução física no decorrer dos anos.
O que muitas pessoas confundem é pensar que o Bike Fit deve ser feito apenas quando está sentindo algum desconforto ou dor em alguma parte do corpo. Acontece que esse é apenas um dos objetivos do bike fit. Recebo constantemente em meu Estúdio atletas que competem em várias categorias tanto de speed quanto mountain bike, maioria deles com alguns títulos em seus currículos. Mesmo sem reclamar de nenhum desconforto durante a pedalada sempre acontece ajustes para o melhor aproveitamento da energia empregada. Nesse momento é muito importante elucidar que: “quem anda mais não é o atleta mais forte, mas sim aquele que consegue converter a energia aplicada no pedal em deslocamento”
Dentro desse pensamento é importante entender que um bom ajuste vai muito alem de diminuir ou aumentar a distancia entre o guidão e o selim.
Como então ter a certeza de que a pessoa que está ajustando sua bike sabe o que está fazendo? Esse assunto também fica para uma próxima oportunidade.
Fonte imagem: http://www.primera-sports.com e http://thebikeshow.net
MM
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