É um assunto que ninguém gosta de conversar, mas necessário.
Em caso de acidente, o que fazer?
No nosso caso, a questão aqui é o ciclismo que, dos três desportos que compõem o triathlon, é reconhecidamente o que traz os maiores riscos de acidentes.
A frase “Existem dois tipos de ciclistas:
Os que já caíram e os que vão cair.”, infelizmente é a mais pura verdade, ou seja, estar bem preparado para este momento pode ajudar a minimizar as consequências, para nós ou para nossos companheiros de treinos.
Informações básicas sobre o que fazer e o que não fazer nas situações de acidente, são conceitos e técnicas fáceis de aprender que, unidos à vontade e à decisão de ajudar, podem impedir que um acidente tenha maiores consequências, aumentando bastante as chances de uma melhor recuperação das vítimas.
Os Primeiro Socorros são as providências imediatas tomadas no local do acidente.
É o atendimento inicial e temporário, até a chegada de um socorro profissional. É claro que cada acidente é diferente do outro.
E, por isso, só se pode falar na melhor forma de socorro quando se sabe quais são as suas características.
Um veículo que está se incendiando, um local perigoso (uma curva, por exemplo), vítimas presas nas ferragens, a presença de cargas tóxicas, tudo isso interfere na forma do socorro.
Suas ações também vão ser diferentes caso haja outras pessoas iniciando os socorros, ou mesmo se você estiver ferido.
Mas a sequência das ações a serem realizadas será sempre a mesma:
1. Manter a calma;
2. Garantir a segurança;
3. Pedir socorro;
4. Controlar a situação;
5. Verificar a situação das vítimas;
6. Realizar ações de socorro as vítimas.
O item 3 merece um destaque: Pedir socorro acionando corretamente um serviço de emergência local. As estradas com administração privada costumam ter telefones de apoio espalhados no acostamento, onde você pode acionar rapidamente o socorro da concessionária. Caso não esteja numa estrada deste tipo, ou numa rua de um centro urbano, o ideal é ligar para estes números:
193 – Corpo de Bombeiros
192 – Serviço Público de remoção de doentes (também conhecido como SAMU – Serviço de Atendimento Móvel de Urgência)
190 – Polícia Militar (Sempre que ocorrer uma emergência em locais sem serviços próprios de socorro. Acidentes nas localidades que não possuem um sistema de emergência podem contar com apoio da Polícia Militar local.)
Quanto mais cedo chegar um socorro profissional, melhor para as vítimas de um acidente, o acione o mais rápido possível. Hoje, em grande parte do Brasil, podemos contar com serviços de atendimento a emergências. O chamado Resgate, ligado ao Corpo de Bombeiros, os SAMUs, os atendimentos das próprias rodovias ou outros tipos de socorro recebem chamados por telefone, fazem uma triagem prévia e enviam equipes treinadas em ambulâncias equipadas. No próprio local, após uma primeira avaliação, os feridos são atendidos emergencialmente para, em seguida, serem transferidos a hospitais.
São serviços gratuitos, que têm, em muitos casos, números de telefone padronizados em todo o Brasil. Use o seu celular, o de outra pessoa, os telefones dos acostamentos das rodovias, os telefones públicos ou peça para alguém que esteja passando pelo local que vá a um telefone ou a um posto rodoviário acionar rapidamente o socorro.
HOSPITAL PÚBLICO
Infelizmente temos em nosso país a ideia que ir a hospital público não é a melhor opção. Pode ser… Este artigo não veio para levantar esta discussão, mas um fato que é consenso entre os profissionais da área de saúde é que, em caso de acidente, se tiver que ser removido do local, o ideal é não ser levado para um hospital particular, e sim para um público, pois os profissionais que ali trabalham estão mais habituados a lidar com este tipo de situação extrema.
Mesmo com toda a urgência de atender ao acidente, os atendentes do chamado de socorro vão fazer algumas perguntas. São perguntas para orientar a equipe, informações que vão ajudar a prestar o socorro mais adequado e eficiente. À medida do possível, ao chamar o socorro, tenha respostas para as seguintes perguntas:
• Tipo do acidente (carro, motocicleta, colisão, atropelamento etc.);
• Gravidade aparente do acidente;
• Nome da rua/estrada e número próximo;
• Número aproximado de vítimas envolvidas;
• Pessoas presas nas ferragens;
• Vazamento de combustível ou produtos químicos;
• Numero de veículos envolvidos.
Os acidentes acontecem nas ruas e estradas, impedindo ou dificultando a passagem normal dos outros veículos. Por isso, esteja certo de que situações de perigo vão ocorrer (novos acidentes ou atropelamentos), sinalize o local de forma adequada impedindo novas ocorrências.
Primeiros Socorros
Depois de garantido pelo menos o básico em segurança e feita a solicitação do socorro, é o momento de iniciar contato com a vítima. Ao tentar manter contato com a vítima, faça perguntas simples e diretas, tais como:
— Você está bem?
Qual é seu nome?
O que aconteceu?
Você sabe onde está?
O objetivo dessas perguntas é apenas identificar a consciência da vítima.
Ela pode responder bem e naturalmente a suas perguntas, e isso é um bom sinal, mas pode estar confusa ou mesmo nada responder.
Se ela não der nenhuma resposta, demonstrando estar inconsciente ou desmaiada, mesmo depois de chamá-la em voz alta, ligue novamente para o serviço de socorro, complemente as informações e siga as orientações que receber.
Além disso, indague entre as pessoas que estão no local se há alguém treinado e preparado para atuar nessa situação.
Em um acidente, a movimentação de vítima inconsciente e mesmo a identificação de uma parada respiratória ou cardíaca exigem treino prático específico.
Controlando uma hemorragia externa
São diversas as técnicas para conter uma hemorragia externa. Algumas são simples e outras complexas, e estas só devem ser aplicadas por profissionais. As mais simples, que qualquer pessoa pode realizar, é a compressão do ferimento, diretamente sobre ele, com gaze ou pano limpo.
Escolha um local seguro para a vítima
Muitas das pessoas envolvidas no acidente se levantam sozinhas, verifique se estão desorientadas e traumatizadas com o acontecido.
É importante que se localize um local sem riscos e junte essas pessoas nele.
Isso irá facilitar muito o atendimento e o controle da situação, quando chegar a equipe de socorro.
Proteção contra frio, sol e chuva
Você já deve ter ouvido que aquecer uma vitima é um procedimento que impede o agravamento de seu estado.
É verdade, mas aquecer uma vítima não é elevar sua temperatura, mas, sim, protegê-la, para que ela não perca o calor de seu próprio corpo.
Ela também não pode ficar exposta ao sol.
Por isso, proteja-a do sol, da chuva e do frio, utilizando qualquer peça de vestimenta disponível.
Mas importante do que fazer algo é saber o que NÃO fazer, um procedimento incorreto pode agravar e muito o estado da vitima. Os mais comuns e que devem ser evitados são:
Não movimente a vítima
A movimentação da vítima pode causar piora de uma lesão na coluna ou em uma fratura
de braço ou perna.
A movimentação da cabeça ou do tronco da vítima que sofreu um acidente com impacto, uma queda de moto, ou um atropelamento, pode agravar muito uma lesão de coluna.
Num acidente pode haver uma fratura ou deslocamento de uma vértebra da coluna, por onde passa a medula espinhal.
É ela que transporta todo o comando nervoso do corpo, que sai do cérebro e atinge o tronco, os braços e as pernas.
Movimentando a vítima nessa situação, você pode deslocar ainda mais a vértebra lesada e danificar a medula, causando paralisia dos membros ou ainda da respiração, o que com certeza vai provocar danos muito maiores, talvez irreversíveis.
No caso dos membros fraturados, a movimentação pode causar agravamento das lesões internas no ponto de fratura, provocando o rompimento de vasos sanguíneos ou lesões nos nervos, levando a graves complicações.
Assim, a movimentação de uma vítima só deve ser realizada antes da chegada de uma equipa de socorro se houver perigos imediatos, não havendo risco imediato, não movimente a vítima.
Não tire o capacete de um ciclista e/ou motociclista
Retirar o capacete de um motociclista que se acidenta é uma ação de alto risco.
No caso de um ciclista, ele não prende o pescoço mas, mesmo assim, para retirá-lo, o ideal é com o acompanhamento do socorrista profissional.
A atitude será de maior risco ainda se ele estiver inconsciente.
A simples retirada do capacete pode movimentar intensamente a cabeça e agravar lesões existentes no pescoço ou no crânio.
Apenas levante a viseira (caso tenha), tire seus óculos (idem) e aguarde a equipe de socorro ou pessoas habilitadas para que eles realizem essa ação.
Não aplique torniquetes
O torniquete não deve ser realizado para estancar hemorragias externas.
Atualmente esse procedimento é feito só por profissionais treinados e, mesmo assim, em caráter de exceção, quase nunca é aconselhado.
Não dê nada para a vítima ingerir
Nada deve ser dado para ingerir a uma vítima de acidente que possa ter lesões internas ou fraturas e que, certamente, será transportada para um hospital.
Nem mesmo água.
Se o socorro já foi chamado, aguarde os profissionais, que vão decidir sobre a conveniência ou não.
O motivo é que a ingestão de qualquer substância pode interferir de forma negativa nos procedimentos hospitalares.
Por exemplo, se a vítima for submetida a cirurgia, o estômago com água ou alimentos é fator que aumenta o risco no atendimento hospitalar.
Como exceção, há os casos de pessoas cardíacas que fazem uso de alguns medicamentos em situações de emergência, geralmente aplicados embaixo da língua.
Não os impeça de fazer uso desses medicamentos, se for rotina para eles.
Um treino em Primeiros Socorros vai ser sempre de grande utilidade em qualquer momento de sua vida, seja em casa, no trabalho ou no lazer.
Podem ser muitas e variadas as situações em que seu conhecimento pode levar a uma ação imediata e garantir a sobrevida de uma vítima.
Isso, tanto em casos de acidente como em situações de emergência que envolvam trauma ou ferimentos.
Atuar em Primeiros Socorros requer o domínio de habilidades que só podem ser adquiridas em treinamentos práticos, como a compressão torácica externa, conhecida como massagem cardíaca, outras técnicas de socorro são diferentes para casos de trauma e emergências sem trauma, como, por exemplo, a abertura das vias aéreas para que a vítima respire, ou ainda a necessidade e a forma de se movimentar uma vítima.
Essas diferenças implicam procedimentos distintos, e as técnicas devem ser adquiridas em treinamento sob supervisão de um instrutor qualificado.
Outras habilidades a serem desenvolvidas em treinamento são as maneiras de se utilizar os materiais (tais como talas e bandagens), como atuarem áreas com material contaminado, quando e quais materiais podem ser utilizados para imobilizar a coluna cervical (pescoço).
São muitas as situações que podem ser aprendidas em um curso prático.
Mesmo assim, nenhum treinamento em Primeiros Socorros dá a qualquer pessoa a condição de substituir completamente um sistema profissional de socorro.
Estar preparado para agir em caso de acidentes com certeza é de extrema utilidade em nosso quotidiano de viagens e passeios, saber como socorrer ou ser socorrido com qualidade poder ser a diferença entre ter uma lesão grave e com sequelas ou ter apenas aquela cicatriz para contar vantagem aos colegas.
Também em caso de viagens internacionais faz-se necessário tirar informações sobre a quem e como solicitar socorro, verificar se seu plano médico tem cobertura nestas localidades além de levar em local acessível um pequeno informativo pessoal com seus dados (tipo sanguíneo, alergias, medicamentos de uso continuo, lesões, telefones), tudo vai ajudar em caso de precisar de socorro.
Como mostrado no início, o assunto não “desce” muito bem para quem gosta tanto de bicicleta como o triatleta, mas não tem jeito, é melhor estar bem preparado para poder ajudar os companheiros de pelotão, ou a si próprio.
MM
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