Passado no final dos anos 1970, este filme de Mike Mill fala de libertação, maternidade e sexo.
A história de Mulheres do Século XX corre no Sul da Califórnia, em Santa Bárbara, mas nem por isso há muito Pacífico à vista, de modo que, quando ele surge no ecrã, um tapete de água bronzeada e vigilante, a respiração pára. Mike Mills, também californiano, planta o filme em 1979 e enche-o com música da época, sobretudo Black Flag e Talking Heads. Música que sai da casa aberta (um sabor a anos 60 que sobreviveu pelos 70s) e sempre em obras de Dorothea (Annette Bening), que fuma incessantemente na encruzilhada da meia-idade enquanto tenta perceber-se e a Jamie (Lucas Jade Zumann), o filho que vai avançando aos tropeções pela adolescência. Mas não estão sozinhos na casa nem são os únicos no jogo da corda com o que esperar da vida: Abbie (Greta Gerwig) aluga um dos quartos, é fotógrafa com aspirações artísticas e ouve The Raincoats; Julie (Elle Fanning) entra pela janela do quarto de Jamie e ampara-se na família (já que não tem uma em casa); William (Billy Crudup) é o hippie veterano, new age e emocionalmente enferrujado que jamais terminará as obras.
Mulheres do Século XX é o cruzamento destas cinco pessoas numa nesga de tempo em que tentam aprender a navegar num oceano existencial que parece demasiado vasto, sobretudo para mãe e filho. Uma nesga de um tempo analógico, com punk, feminismo, humor e um presidente decente (Jimmy Carter), Humphrey Bogart e Casablanca na TV, e ocasional narração em off vinda do presente. Nada começa nem acaba no que aqui se vê, entregue por um elenco exemplar. Uma obra extraordinária, luminosa, para ver em loop.
Por Jorge Lopes
MM
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