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quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Vitor Gamito.

Vitor Gamito, Ex-Ciclista Profissional

Foi um dos mais brilhantes ciclistas da sua geração, um nome incontornável do nosso ciclismo principalmente durante a década de 90, atingiu o seu ponto mais alto ao vencer a Grandíssima no ano 2000 depois de quatro segundos lugares! Esteve sempre bastante à frente do seu tempo no que ao treino diz respeito, e hoje é uma das figuras do BTT nacional, o Transportugal já faz parte do seu currículo, e faz tantas coisas ao mesmo tempo sem pensar em parar, que já deve estar para breve ser convidado para substituir o coelhinho das pilhas alcalinas...
Falamos pois claro de Vítor Gamito, o sempre disponível atleta / treinador / ex-profissional / funcionário da GN, aceitou responder a um questionariozinho da nossa parte e assim ficamos a saber um pouco de tudo, desde a glória na estrada, ao BTT, passando por todas as outras funções, recordando o passado e olhando para o futuro, destacamos sem dúvida a última resposta nesta entrevista, que para além de explicar como se pode ficar a andar muuuuiiiittooo melhor com uma simples bebida, deixa-vos a rir de certeza! Imperdível…

Nos anos de ciclista de estrada, podemos dizer sem ferir ninguém, que foi um dos melhores da sua geração, o que mais o orgulha quando olha para o seu passado na estrada?

Orgulho-me de ter sido um dos ciclistas mais regulares e completos da década de 90. Conseguia vencer provas no início da temporada, em Março, e ainda lutar pela vitória na Volta a Portugal em Agosto. Ganhava etapas de montanha, assim como contrarrelógios. Consegui amealhar também vitórias em praticamente todas as temporadas de ciclismo, de 1990 a 2003. Foram 14 anos muito bons.

Depois de ser quatro vezes vice-campeão da Volta, e já com 30 anos de idade, chegou a deixar de acreditar na sua vitória na Volta?

Nunca deixei de acreditar! Pensava sempre que, quem era capaz de fazer 2º lugar, também era capaz de vencer. Só faltava reunir todas as condições para o conseguir, não deixar nenhuma “ponta solta”.

Depois de ter vencido a nossa maior prova, esta deixou de ser um objetivo primordial para si, ou continuou afincadamente a tentar vence-la?

Continuou a ser prioridade, pois não havia nada mais importante para vencer a nível nacional.

O que mais recorda dessa Volta que venceu, e onde foi para si o ponto-chave que decidiu definitivamente a Volta a seu favor?

Para vencer uma prova de tantos dias (na altura eram 16 dias) e tão dura, não se pode ter um dia mau. Houve anos em que possivelmente estaria em melhores condições físicas para vencer a prova, mas por uma série de fatores isso não aconteceu. No ano que venci – 2000 – não comecei nas melhores condições físicas, houve inclusive um par de dias que pensei em desistir dessa Volta, por causa de uma lesão. Depois da etapa da Senhora da Graça, a lesão que quase por milagre desapareceu e eu comecei a melhorar consideravelmente. A etapa da Serra da Estrela foi o dia da reviravolta. Essa subida deu-me bastante confiança e fez-me acreditar que se não tivesse nenhum contratempo, seria esse ano. O contrarrelógio final, no Marvão, foi a etapa que mais gozo me deu e só nesse dia respirei de alívio.

Qual a ou as equipas que mais gostou de representar, e que lhe deixaram mais saudades?

A Sicasal/Acral, foi a que mais saudades me deixou. Eramos uma família, tínhamos condições de trabalho de sonho, não nos faltava nada! Mas mesmo sendo talvez a melhora equipa nacional, não pude oferecer uma vitória na Volta a esta equipa.

Estamos numa altura em que felizmente temos cada vez mais ciclistas a correr no estrangeiro, embora o Vítor tenha corrido fora de Portugal duas épocas, porque é que no seu tempo não tínhamos tantos ciclistas a correr no estrangeiro?

Porque na década de 80/90 as condições de trabalho em Portugal eram boas, e raramente tínhamos melhores propostas do estrangeiro. Em 1993, estava eu no primeiro ano de profissional, recebi um convite da equipa Festina, mas nunca foi nada de concreto. O aparecimento dos empresários de ciclismo, no final da década de 90, veio também alterar um pouco esta situação.

Como analisa o atual estado do ciclismo de estrada Português, até comparando com o da sua altura, e como perspectiva o futuro?

Se formos a considerar o ciclismo realizado em território nacional, considero estar a atravessar uma grave crise, fruto sobretudo da conjuntura económica. Por outro lado, se falarmos em valores nacionais, temos vários nomes a dar cartas no pelotão internacional. A emigração dos nossos melhores ciclistas é uma realidade, situação que não acontecia nos meus anos de ciclista profissional.
O futuro do ciclismo português vai passar sobretudo pelos nomes que conseguirmos “exportar” para as grandes equipas internacionais.

Alguma vez quando competia na estrada pensou em competir no BTT? Ou aconteceu por acaso?

Nunca pensei nisso, até porque o BTT em Portugal não pode ser considerado profissão, não há BTT profissional em Portugal.
Desde o início dos anos 90 que faço BTT, sobretudo nos meses de Inverno como complemento á preparação para o ciclismo de estrada. Agora, acontece exatamente o contrário.

Para si quais são as maiores diferenças para um atleta entre competir na estrada e competir no BTT?

Em termos físicos, não existe muita diferença. Talvez a maior diferença seja, que no BTT a técnica é um fator importante para o sucesso desportivo, enquanto que no ciclismo de estrada as capacidades fisiológicas têm um papel preponderante.

Neste momento em Portugal aconselharia um atleta que tivesse de optar entre a estrada e o BTT a escolher qual das modalidades?

Em termos de carreira profissional, neste momento não aconselharia nenhuma. Se for para fazer unicamente carreira desportiva em paralelo com uma profissão estável, aconselharia aquela que o atleta goste mais. A paixão é o fator mais importante para o sucesso desportivo.

No BTT já construiu um palmarés bem composto, e não parece nada disposto a parar. Existe algum título ou competição que gostasse especialmente de ganhar no BTT?

Eu faço BTT pela paixão que tenho pelas bicicletas e ao mesmo tempo para alimentar o bichinho da competição que há dentro de mim. Também é uma forma de me obrigar a ter hábitos de vida mais saudáveis. O BTT é a modalidade que me consegue dar tudo isto e ainda a possibilidade de conhecer recantos do nosso país (e outros) que de outra forma não teria oportunidade de conhecer.
Tenho aventuras que gostaria de repetir, Transalp por exemplo, e outras que adoraria fazer, Transpyr é uma delas. Este ano, o meu objetivo será mais uma vez a Transportugal Garmin.

A sua maior paixão no BTT são as provas por etapas, ou estas são apenas as que dá mais destaque? O TransPortugal faz-lhe lembrar a Volta?

Sempre gostei mais de provas por etapas, possivelmente porque é aqui que consigo melhores resultados desportivos. Sim, a Transportugal é literalmente uma Volta a Portugal, aliás, hoje em dia é mais volta que a própria Volta. O destaque é o que menos me interessa. Quero é desfrutar dos trilhos, fazer novas amizades e levar o corpo ao limite!

Os seus colegas que partilharam as estradas consigo enquanto profissionais não lhe perguntam frequentemente o porquê de depois de ter sido um dos melhores na estrada, continuar a dar no duro fora dela? Porque não existiram muitos mais a fazer o mesmo?

Pois, isso nunca me perguntaram! E acredito que lhes faça um pouco de confusão. Porque até a mim me faz, lol. Eu quando terminei a minha carreira de profissional, disse a mim mesmo que nunca mais iria treinar. E afinal, 8 anos depois, aqui estou eu a conciliar a minha atividade profissional com os treinos. O que não é nada fácil!
Quanto um ciclista profissional dedica uma grande parte da sua vida ao treino árduo, e às regras que esta vida exige, é normal que quando terminemos não queiramos mais ouvir falar de controlar as calorias ingeridas, treinar à chuva, ao frio e ao calor, deitar cedo, etc, etc. No meu caso, isto só me aconteceu durante uns 3 anos, em que o tal bichinho esteve adormecido. Depois acordou e agora vai ser um caso sério para deixar esta vida.

A sua paixão pelo ciclismo é notável, depois de ter sido um dos melhores profissionais de estrada dos últimos anos em Portugal, dedica-se agora ao BTT, podemos dizer que de corpo e alma. Quando decidir parar vão recordá-lo como um “estradista” ou como um BTT’ista? Já agora pensa parar? :)

Ei-de ser sempre visto como um estradista. Aliás, agora dedico-me ao BTT mas não sou nada tecnicista. Em trilhos mais técnicos pareço que não sei andar de bicicleta. Se bem que tenho estado a melhorar gradualmente! Mas penso sempre que no dia seguinte tenho que ir trabalhar e não arrisco mesmo nada! Parar?! Nunca, a menos que a saúde não me permita!

Vai alinhar por que equipa em 2013?

Não alinho por equipas. Aliás, não me considero um atleta de competição. Faço eventos de BTT, alguns deles com classificação, os quais gosto de lutar pela vitória, mas não me dedico à pura competição. E nem sequer vou participar nas provas oficiais de BTT (taças e nacionais).

Quais os seus maiores objectivos desportivos para 2013?

Curtir e conhecer novos trilhos, fazer novas amizades, não me aleijar, e por último, repetir a vitória na Transportugal.

Neste momento é treinador, atleta, e trabalha na Gold Nutrition, tem mais alguma ocupação? Como é normalmente um dia comum de trabalho?

De momento acho que é só ! Trabalho na equipa de marketing da GoldNutrition, sou treinador de atletas de BTT e Estrada – GMTSports – e treino para maratonas de BTT. Além disto colaboro com algumas revistas de especialidade, mantenho atualizados a minha página de Facebook e website, e gosto de manter uma ligação ativa com todos os meus parceiros, ou seja, as marcas que me patrocinam como atleta de BTT.
Durante uma semana normal de trabalho, quando treino ao fim da tarde, acordo às 7h00, deixo os filhos na escola às 8h15 e chego ao escritório da GN às 9h00. Saio do escritório às 18h00, chego a casa às 18h45, e começo a treinar às 19h30. Treino cerca de 60-90 minutos, quase sempre indoor (rolos). Outras vezes treino de manhã.
Neste caso acordo às 6h00, e começo a treinar ás 6h30, até às 8h30. Nestes dias entro ao serviço às 10h00 e saio às 19h00.
Nos fins-de-semana, quando não tenho eventos GN, e nos dias de folga, aproveito para fazer mais horas de bike.

Andou sempre um pouco à frente do seu tempo em termos de treino, quais são para si as maiores diferenças entre o que era o treino e treinar à uns 20 anos atrás, e o que é hoje?

No meu caso, os métodos não alteraram muito. Eu fui dos primeiros atletas a utilizar cardiofrequêncímetro em Portugal. Estamos a falar de finais de 80. Os métodos de treino são basicamente os mesmos. Pouca evolução têm tido nestes últimos anos. A diferença é que há cerca de 15-20 anos, quase ninguém em Portugal treinava com método, mesmo os profissionais! Saiam para “fazer quilómetros” e era nas primeiras competições que “ganhavam” ritmo competitivo. Agora existem mais e melhores ferramentas de trabalho. Até os amadores, que só dão umas voltas ao fim-de-semana já recorrem a treinadores. A grande evolução destes últimos anos, tem sido sobretudo na proliferação de treinadores, e na liberalização de ferramentas de treino que há uma década só alguns ciclistas ou equipas de nível internacional possuíam.

Como treinador qual os erros que vê mais frequentemente os atletas a fazerem? E qual o conselho que mais vezes tem de dar?

A maioria dos atletas exagera na carga de treinos. Leem que o atleta profissional A ou B faz X quilómetros por mês e tentam fazer semelhante. Esquecem é que esse atleta profissional (ou de elite), descansa de forma proporcional á carga de treinos. Se um atleta não tiver tempo para descansar ou tiver uma profissão desgastante a nível fisico, é preferível treinar menos. Os resultados desportivos serão melhores.

É notável a sua participação nas redes sociais com todos os seus fans. Sempre foi muito ligado aos seus fans? Que importância e de que forma estes influenciam a sua atitude no ciclismo?

Infelizmente nos meus anos de atleta profissional, as redes sociais não estavam ainda em voga! Senão teriam sido uma ferramenta importante para eu partilhar tudo o que aprendi durante os mais de 20 anos de carreira. Para mim esta é a principal utilidade das redes sociais, partilhar as minhas experiências.

Merckx, Cipollini, Fondriest, todos eles foram grandes ciclistas e todos possuem ou formaram uma marca de bicicletas. Sendo o Vítor tão empreendedor e tão virado para o futuro, nunca pensou fazer uma marca de bicicletas também?

Já pensei sim. Ideias tenho eu muitas! Mas não consigo fazer tudo ao mesmo tempo!

Se existe alguém que sabe tanto de estrada como de BTT, esse alguém provavelmente é o Vítor, então…agora na brincadeira “ou não” quando temos o Vítor candidato a Presidente da Federação? Nunca pensou nisso?

Não temos! Não gosto muito de trabalho de secretária, burocracias, papelada, estatutos, gravatas, …Gosto de arregaçar as mangas e mexer na massa!

Para finalizar, pelo que vemos através das redes sociais o Vítor Gamito é alguém comunicativo e brincalhão, por isso, e como todos os ciclistas deve ter uma boa história para nos contar, conte lá uma ou duas daquelas mesmo de rir! E utilize o espaço que quiser!

Tenho várias. Mas recordo-me de uma Volta às Astúrias, numa etapa de alta montanha e que fazia muito frio. Numa montanha de primeira categoria eu descolei do primeiro grupo e fiquei sozinho entre grupos. No final dessa subida, vejo uma cara conhecida na berma da estrada com uma garrafa pequena de plástico. Dentro da garrafa tinha um líquido amarelo que me parecia chá. Eu como ia com muito frio, agarro a garrafa e num só trago ingiro todo o líquido. Começo a sentir um ardor pela garganta! Afinal não era chá quente, mas sim whiskie! Como ia muito fraco, em menos de 5 minutos o whiskie “bateu” forte! Fiquei de tal maneira “endiabrado”, que comecei a acelerar, já sem frio e sem fraqueza, para tentar alcançar novamente o grupo da frente. A perseguição durou uns 30 minutos. Começo a avistar o grupo e estava mesmo quase a alcançá-los!
Mas o efeito da “gasolina” de avião entretanto terminara, e nesse momento fiquei completamente “a pé”! Resultado: não conseguir apanhar esse grupo da frente e ainda fui ultrapassado por um segundo pelotão que veio de trás, lol Chegar á meta nesse dia foi uma tortura!
MM

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