Muitas equipas poderão estar em risco caso o calendário competitivo não recomece em breve.
O alerta foi dado e muitas poderão nem sequer chegar a 2021...
O ciclismo profissional entrou numa fase de não retorno.
Se até há cerca de 15 dias apenas tinham sido canceladas ou adiadas algumas provas, os dados mais recentes do Coronavírus apontam para um prolongamento temporal que poderá fazer com que alguns países só atinjam o pico de casos em finais de maio.
Mas isto não quer dizer que em junho tudo voltará ao normal, pois os especialistas dizem que a partir dessa altura os casos terão tendência para diminuir gradualmente, pelo que ninguém deverá baixar a guarda, ou seja, provavelmente continuará a ser recomendado o isolamento social, caso contrário, a curva continuará a subir, em vez de descer.
E o que é que isso tem a ver com o ciclismo?
Tudo!
O ciclismo é uma atividade outdoor (excepto o de pista, obviamente), mas no caso do ciclismo profissional, mais do que uma atividade desportiva, vive do Marketing.
As equipas profissionais vivem do retorno que dão aos seus patrocinadores, e não havendo ciclismo, o retorno é quase nulo. S
ão as televisões, as revistas da especialidade, os jornais desportivos, os sites e as redes sociais que geram esse retorno, mas todos têm ordem de grandeza diferenciada.
No caso das equipas World Tour, não havendo Volta a França todo o ano fica comprometido e não nos referimos somente em termos de resultados desportivos.
O orçamento de cada equipa está intrinsecamente conectado com os resultados desportivos, mas sobretudo com o ROI (return on investment), aliás, como qualquer empresa e o Marketing é a linha diferenciadora.
As equipas de ciclismo do World Tour são, acima de tudo, empresas, cujas receitas desportivas (prémios por vitórias em etapas ou gerais) representam uma mínima parte do orçamento.
Por isso, tendo em conta que a maior parte das equipas participou em poucas provas este ano e que provavelmente não voltarão a competir antes do fim do primeiro semestre, todo o orçamento de 2020 está em risco.
Acresce o facto de que as equipas recebem o valor acordado em tranches, pelo que algumas já confidenciaram ter recebido notificações dos seus parceiros a indicar que não poderão cumprir com o acordado.
Também está em cima da mesa a redução salarial.
Já há equipas a renegociar os contratos, tendo em conta a situação de excepção, aliás, algo que também está a acontecer no futebol.
Mas a situação mais crítica pode acontecer em 2021, pois com a recessão económica esperada para este ano, algumas equipas (sobretudo Continentais) poderão não encontrar patrocinadores.
Exceptuam-se, obviamente, as equipas que têm a sorte de beneficiar de patrocinadores que não sofrem muito com as oscilações de mercado, sobretudo aquelas que contam com fundos de investimento, mecenato, patrocinadores multi-milionários e entidades de solidariedade social ou financeiras.
E o caso português?
Portugal não fugirá a este paradigma, mas é um país em que as equipas têm algo que os outros não têm, o chamado (em bom português) "desenrascanço".
Apesar de todas as limitações, acreditamos que as nossas equipas conseguirão continuar, pois não dependem de investimentos avultados.
E a maioria conta com patrocinadores que são, mais do que investidores financeiros, verdadeiros apaixonados pela modalidade.
Mas há uma questão importante no ar...
Se a Volta a Portugal não se realizar, o resto do ano pode ficar comprometido, bem como o valor dos patrocínios para 2021, pois em regra esses valores dependem das mais valias obtidas no ano fiscal de 2020.
Já questionámos Joaquim Gomes acerca da eventual realização da Volta a Portugal, mas ainda não obtivemos resposta.
O que até é natural, pois todos os dias o cenário muda (no prazo de uma semana a Ministra da Saúde apontava o pico da pandemia para meados de abril, tendo corrigido ontem esse valor, apontando para final de maio).
E não existem formas de as equipas e organizadores de provas tentarem obter receitas/retorno de outra forma?
Claro que sim. O ciclismo é um desporto que envolve paixão, emoções ao rubro.
Os fãs vibram intensamente com a vitória dos seus ciclistas favoritos e não existem dúvidas de que se forem chamados para ajudar, serão os primeiros.
A venda de merchandising é uma eventual fonte de receitas, estando algumas equipas a criar passatempos nas redes sociais.
O crowdfunding é outra das hipóteses, algo que foi usado quando a crise financeira atingiu o mundo em 2005.
Por exemplo, a prova Paris-Roubaix esteve em risco de não se realizar há alguns anos e foi necessário fazer um peditório para arranjar algumas estradas, pois as entidades não tinham verbas para a sua manutenção.
Teve de ser um grupo de fãs da prova, bem como moradores locais a sugerir fazer esse peditório, tendo conseguido a verba financeira para a manutenção de 80% dos troços mais degradados.
Em termos de retorno, as equipas já estão a criar vídeos, sessões de perguntas/respostas nas redes sociais, passatempos e oferta de brindes. Ideias não faltam, até porque a incerteza de quanto tempo demorará tudo a voltar ao normal não parece ter resposta imediata.
E de que forma podemos todos apoiar as equipas nesta fase?
Comprando merchandising, colocando Like nas fotos das redes sociais das equipas, comprando produtos das marcas que as patrocinam e dando palavras de incentivo aos ciclistas e diretores. Tudo gira à volta de nos mantermos unidos e confiantes.
O ciclismo já viveu tempos conturbados, mas sempre se soube reinventar.
Não duvidamos que voltaremos a ver os nossos ciclistas favoritos mais cedo ou mais tarde.
Resta-nos aguardar que os estragos não sejam maiores do que os sofridos na última crise financeira.
Até lá, mantenham-se em casa, protejam-se e protejam os vossos familiares e amigos.
MM
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