A Federação Portuguesa de Ciclismo (FPC) decidiu abandonar o Observatório ACP por considerar que aquele grupo não tem qualquer credibilidade, como ficou demonstrado com a publicação, hoje, de um "estudo de opinião", promovido por aquela entidade, sem que a FPC, membro do Conselho Consultivo do Observatório, tivesse sido auscultada sobre a iniciativa.
Apesar de integrar o organismo consultivo, a FPC não foi consultada sobre a realização do estudo de opinião e não sabe de que forma foram redigidas e colocadas as questões aos entrevistados.
É, portanto, abusivo o título de primeira página do Jornal de Notícias de hoje, segundo o qual "ciclistas [são] a favor do uso obrigatório de capacete e seguro".
As notícias veiculadas pelo Jornal de Notícias e pela TSF baseiam-se numa sondagem cuja metodologia é, no mínimo, duvidosa, e a análise dos respetivos resultados é efetuada de forma parcelar, aparentemente servindo apenas para que o ACP possa demonstrar a sua posição.
Para além não incluir nenhuma análise credível ou científica dos resultados, a notícia do JN apresenta erros grosseiros, ao referir, por exemplo, uns supostos 0,5 por cento de deslocações com bicicleta nas áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto, registadas pelo INE em 2017, quando os dados disponíveis agregam o modo pedonal e ciclável (com valores de 23 e 19 por cento, respectivamente).
Sem prejuízo da pertinência e oportunidade do tema, é lamentável a abordagem simplista e redutora do suposto estudo, que parece ter como único objectivo veicular a mensagem e os objetivos do ACP, no sentido de despromover e desqualificar a utilização da bicicleta como modo de transporte.
A FPC aceitou o convite do ACP para integrar o Conselho Consultivo do referido Observatório em 2016, na expectativa de colaborar com as diversas entidades que dele fazem parte, visando promover a redução do risco rodoviário e a mobilidade sustentável. Ao avançar com o estudo de opinião, o ACP demonstrou uma atitude desrespeitosa, especialmente atendendo ao tema e âmbito da sondagem, que recomendaria, no mínimo, uma consulta ou informação prévia.
Além disso, pretender sustentar uma posição perigosa e contrária aos objetivos da Estratégia Nacional para a Mobilidade Ativa Ciclável.
Neste sentido, a FPC informou o ACP que deixa imediatamente de estar disponível para continuar a participar numa plataforma que serve interesses contrários à promoção da mobilidade sustentável e à redução do risco rodoviário.
"Ao contrário de entidades congéneres na Europa, o ACP demonstra que defende um paradigma retrógado e ultrapassado. A utilização da bicicleta para a mobilidade é uma realidade crescente no nosso país, apesar de estarmos ainda longe de muitos outros exemplos europeus.
Não há nenhum país na Europa onde o seguro ou o uso do capacete sejam obrigatórios, porque o que é correto é eliminar barreiras à promoção de uma prática saudável e sustentável para as pessoas e para as cidades", afirma o vice-presidente da FPC e coordenador do Programa Nacional Ciclismo para Todos, Sandro Araújo.
A Federação Portuguesa de Ciclismo, entidade que agrega ciclistas de todos os perfis, desde a alta competição ao cidadão que utiliza a bicicleta como meio de transporte, considera que a utilização do capacete não deve ser obrigatória, embora seja recomendável em diferentes contextos.
Apesar de todos os filiados na Federação Portuguesa de Ciclismo estarem cobertos por seguros de acidentes pessoais e de responsabilidade civil, entendemos que os mesmos não devem ser obrigatórios.
MM
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