Andar menos de carro e encontrar alternativas ao transporte motorizado é muito mais simples do que a maioria das pessoas pensa. Fazer da bicicleta nossa companheira diária é apenas escolher o mais utilizado meio de transporte do mundo. Mesmo que a maioria dos ciclistas estejam no outro lado do planeta, por toda a Europa a bicicleta está a tornar-se mais popular que nunca. Existem muitas razões para o que assistimos mas a verdade é que o velocípede vive no presente provavelmente a sua grande idade de ouro. Nunca governos nacionais e locais investiram tanto na promoção da bicicleta e em infraestruturas dedicadas aos seus utilizadores. As marcas alargam as suas gamas, recuperam-se modelos clássicos, por todo o mundo nascem novos produtos.
No primeiro ano de funcionamento da Vélib’ parisiense, as vendas das lojas de bicicletas cresceram 70 por cento. Nos Estados Unidos da América calcula-se que um aumento de apenas um por cento no número de commuters a nível nacional representaria a salvação para a indústria ligada às bicicletas. Em Lisboa nasceram nos últimos anos alguns projectos comerciais vocacionados para a bicicleta urbana nas suas diversas vertentes, tendo apesar da tão propalada crise obtido relativo sucesso. Numa recente ida ao centro comercial Vasco da Gama, no Parque das Nações, reparei em duas montras de lojas de roupa onde figuravam bicicletas de cidade, modelos actuais e que se podem encontrar à venda, verdadeiros veículos utilitários, em vez daquelas costumeiras bicicletas pintadas duma só cor, coisas já sem préstimo a servirem apenas de cenário. Será isto um sinal de que quem ganha a vida a vender roupa, acredita que o estilo de vida ligado às bicicletas atrai consumidores?
As montras do Vasco da Gama foram montadas para nos vender roupa mas como a roupa das montras é toda praticamente igual, mandam as técnicas do marketing que se associe um estilo de vida que diferencie um produto dos outros. O fantástico é duas marcas terem apostado no mesmo estilo. O que as montras nos vendem é a ideia que aquelas calças ficam bem a par duma bicicleta. E isso não é necessariamente o mesmo que vender o modo de vida associado à bicicleta e muito menos convencerem-nos a mudar os hábitos de mobilidade. Em mercados de maior dimensão há marcas de roupa que saltam para dentro das montras de lojas de bicicleta. Não incorporam as bicicletas na sua imagem, vão mais longe e tentem abrir sucursais dentro do universo ciclo-estilístico.
Vem isto tudo a reboque dum muito interessante e saudável jogo, meio à desgarrada, meio ao desafio com um pé no além Douro e outro no pedal. Mais do que convencer alguém a andar de bicicleta, costumo aconselhar a olhar à volta e dizerem-me onde é que acham que estaremos daqui a um par de anos, como é que imaginam que será a vida com o petróleo a 100, 150, 250 euros o barril, se acham que vão poder continuar o actual estilo de vida por forma a manter os mesmos ou melhores padrões de qualidade de vida do presente. Passamos a vida a ouvir recomendações para poupar combustível, poupar água, separar o lixo, comer saudavelmente, usar a energia de forma eficiente, mas nunca nos dizem “mude o seu estilo de vida”. E esse deveria ser verdadeiramente o objectivo prático, o único válido. Se a Expo 98 teve por tema os Oceanos, não é por acaso que em Xangai o tema são as cidades. É nas cidades que se está a jogar o futuro e é nas cidades que a bicicleta ganha terreno.
Em 2005 os ouvintes dum programa de rádio da BBC4 (again) foram convidados a eleger a invenção mais importante deste 1800. Perante uma concorrência de escolhas saída do mais puro engenho cientifico como a descoberta do DNA, o invento da rádio ou a criação de vacinas, a bicicleta foi eleita por quase 60 por cento da audiência. Talvez não saiba que um litro de gasolina tem mais de 7.000 calorias,. Se pudéssemos beber gasolina faríamos mais de 300 quilómetros com apenas um litro (a 7.7 calorias por quilómetro). Para mim a bicicleta é o único veículo que a par de transportar o seu utilizador com grande beneficio para a sua saúde, causa dano algum às outras pessoas. Não importa o preço, a idade nem a origem, uma bicicleta seja de competição ou de passeio, em carbono ou bambo ou aço Reynolds, de montanha ou uma BMX, uma omafiets ou uma chooper, uma penny farthing ou uma dobrável, a bicicleta é uma máquina construída para dar liberdade como nenhuma outra. Porque todos somos iguais quando estamos em cima duma, é a mais democrática das invenções.
Em Portugal ainda se fabricam algumas coisas para além de Magalhães e rolhas de cortiça. A Orbita mantém uma linha completa de bicicletas embora raramente as dêem a conhecer. Gosto particularmente do modelo Sport Confort Classic S. É uma bicicleta com quadro de senhora e linha holandesas com rodas de 26 polegadas. Por uns modestos 165 euros (preço recomendado) esta bicicleta vem com 7 velocidades de carreto, luz à frente e atrás alimentada por dínamo, grade porta bagagem e guarda-lamas. Melhor não se compra por este preço. É uma bicicleta de fácil condução e suficientes ajustes para ser confortável para qualquer ciclista. Não é uma máquina brilhante, não tem nenhum componente de última ou sequer antepenúltima geração mas é Orbita, uma marca nacional e oferece a mais honesta relação entre o que damos e o que recebemos. Merecia, claro está um nome mais bonito, que fizesse jus à já comprida história desta marca de bicicleta portuguesa. É sem margem para dúvida um compromisso ideal para quem as finanças não deixam muito lastro e ainda assim gostaria de dar à bicicleta a hipótese de lhe mudar verdadeiramente a vida.
MM
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.