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quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Carros vs. bicicletas.

Carros vs. bicicletas. Uma guerra que o Código da Estrada pretende terminar.
Em 2014, as regras mudam: a bicicleta deixará de ceder passagem a carros. Mas, na estrada, ciclistas e automobilistas ainda se queixam
João Pedro Barreto admite fazê-lo "na maioria das vezes" que algum carro o ultrapassa demasiado perto, ou quando recebe uma "buzinadela" a exigir que saia da estrada e salte para o passeio. Num semáforo mais à frente, o ciclista pára ao lado do carro em causa e explica ao condutor os porquês de ser "perigoso" o que acabou de fazer. Mas a partir de 3 de Janeiro poderá deixar de ter motivos de queixa - os automóveis vão passar a ser obrigados a manter uma distância mínima de 1,5 metros quando ultrapassarem um velocípede na estrada. Esta é uma entre várias novidades que, em 2014, passarão a habitar o Código da Estrada (CE).
Nas ruas, as alterações serão convertidas em novas regras para regular a convivência entre velocípedes e carros. Bicicletas com prioridade quando vierem da direita, num cruzamento sem um semáforo a ditar as regras e ciclistas a poderem circular lado a lado ou sem obrigação de estarem sempre em ciclovias são três exemplos. A partir de 3 de Janeiro será assim. 
É "dos atos mais indutores de medo que se pode imaginar". Nestes casos, as novas regras do CE - publicadas a 3 de Setembro em Diário da República - apenas vão corrigir a questão das ultrapassagens.
Paulo Almeida não é tão drástico. No Porto, onde passa os dias a pedalar, vê uma "boa" convivência entre automobilistas e ciclistas, cingindo a "pontuais" os casos que o levam a pensar o contrário, como as "razias" de certos carros e a "falta de calma" a ultrapassarem velocípedes. Ainda nota "algum preconceito" em relação à bicicleta vindo de quem está ao volante de um carro. Reconhece serem de "louvar" as alterações que entram em vigor em Janeiro, lembrando, contudo, a "urgência" de aplicar medidas de acalmia do tráfego em certos locais da cidade - com a criação de zonas com o limite de 20 ou 30 km/h.
Não se muda por decreto Todos os problemas mencionados são colocados por Ana Pereira no mesmo saco: no das situações de desrespeito, que acontecem tanto "quando se circula a pé ou de carro", defende a cofundadora da Cenas a Pedal.
Sentada na bicicleta, Ana também critica os condutores quando o tema são ultrapassagens. Mas do lado inverso. "Não se sabem chegar para a direita nos congestionamentos, para permitir a ultrapassagem dos veículos de duas rodas", explicou, sublinhando que "quase todos os ciclistas também são, num momento ou outro, automobilistas". A "negligência" e "ignorância" foram os adjetivos que colou aos condutores, embora salientando, como Paulo, que o "desrespeito ativo" é algo que por "raras" vezes deteta.
E pode a 13.a alteração ao Código da Estrada erradicar de uma vez tudo isto? Ana responde com um "não" desconfiado, pois "não se mudam comportamentos por decreto". Falta a divulgação. O i quis testar as suas palavras e as respostas deram-lhe razão: só nove de 30 pessoas inquiridas online, entre os 23 e os 56 anos, admitiram estar a par de que o CE vai ser alterado, com apenas três delas a conseguirem identificar uma mudança em concreto. Além da divulgação para fazer chegar aos cidadãos "o que mudou", Ana enalteceu o fator educação, "saber o que mudou e porquê", e da fiscalização, para "[o cidadão] saber que, se não cumpre, há consequências". Ainda assim, diz, "as grandes mudanças estão feitas".
Do lado dos automobilistas há até uma voz que antevê um aumento do número de acidentes rodoviários devido "à permissividade que os ciclistas terão" com as mudanças na legislação. Carlos Barbosa não tem dúvidas: "Esta nova lei vai permitir que haja muito mais desastres e ciclistas a serem derrubados", antecipa o presidente do Automóvel Clube de Portugal (ACP), ao criticar a nova permissão de os ciclistas "andarem lado a lado".
Em 2012, a Autoridade Nacional da Segurança Rodoviária contabilizou 1487 acidentes nas estradas envolvendo velocípedes - o equivalente a 3% da sinistralidade rodoviária em Portugal nesse ano. Nas estradas, o dirigente estima que "o convívio são" entre carros e bicicletas demore "algum tempo a chegar" e argumenta que Portugal não tem "tradição de ciclismo" e "as vias" do país "não foram construídas para andarem ciclistas".
Quem não vê problemas de maior é Ricardo Cruz. No Porto, o conta-quilómetros das suas pernas chega, em média, aos 600 km por mês, espalhados por pedaladas diárias onde diz sentir "um enorme respeito pelo condutor de bicicleta". O membro da MUBi (Associação para a Mobilidade Urbana em Bicicleta) não gosta dos termos "ciclista "e "automobilista", evitando-os por parecerem "seitas rivais" e por "não sentir que haja um clima de guerra". Pelo menos nas "estradas urbanas"; nas palavras, é outra coisa.
MM

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