CLARICE
Dois grandes desafios que escolho lutar por eles: ser ciclista e mulher nas ruas. Pedalar, principalmente em BH, é um ato de rebeldia constante, infelizmente ser uma mulher pedalando para realizar os deslocamentos diários é algo que ainda gera muita estranheza no trânsito. Sempre tento subverter o medo e a insegurança, e busco ocupar as ruas com ousadia e graça. Superar meus limites, me empoderar diante de um trânsito violento, agressivo e notoriamente machista, é uma conquista gratificante apesar de árdua. Ofensas e intimidações são uma constante no meu caminho, em contrapartida, encontro também muita simpatia e força em motoristas, pedestres e colegas, e sinto um respeito crescente por ciclistas em geral.
Desde 2012 tomei a decisão de depender cada vez menos do automóvel particular e do transporte público, comprei uma bicicleta e passei a ir e voltar do trabalho pedalando, mas só andava sozinha nas calçadas por receio do trânsito. Com o tempo e ajuda de outros ciclistas fui pegando o ritmo e confiança de andar no meio da rua, perdendo os medos e conquistando a cidade. A meu ver a bicicleta é muito mais do que um modal de transporte autônomo, é uma nova articulação social e política, uma ferramenta de cidadania e uma possibilidade de redescobrir lugares e pessoas. Pra mim bicicleta representa isso: viver, sentir e gostar da cidade e seus cidadãos; como ciclistas mulheres somos mais sensíveis e atentas aos problemas das ruas, gentis e cordiais com o próximo, e os laços de afeto e amizade com aquilo que nos cerca cotidianamente tornam-se muito preciosos e enriquecedores.
São todos esses benefícios que me mantém firme nessa luta diária, superando os preconceitos e desafios. Busco sempre retribuir todo o apoio que tive, ajudando a encorajar cada vez mais mulheres a superarem todos seus temores, romperem seus limites e ir além, impor sua força com toda leveza e respeito que nos cabe.
Clarice Lacerda
MM
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