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sexta-feira, 7 de setembro de 2018

As Pioneiras.

Para falarmos de mulheres e motocicletas é mais coerente falarmos primeiro, de mulheres e bicicletas. Em 1880 surge a Rover Safety Bike, que é a bicicleta tal como a conhecemos até hoje. Eram chamadas de “Safety bikes” justamente por oferecerem mais segurança em comparação com as “Big Wheels.”
Isto teve um impacto revolucionário nos movimentos femininos do final do século XIX. As bicicletas trouxeram a possibilidade de uma nova liberdade para as mulheres que até então viam-se restritas a serem transportadas por homens. Assim sendo, surge este veículo relativamente barato e de fácil manejo. Mulheres passam a ter um veículo individual, que lhes possibilita uma grande liberdade, seja para o trabalho, os esportes ou a diversão. O Movimento dos Direitos da Mulheres tomou força por volta de 1890 e as bicicletas tornaram-se um símbolo de mudanças. Em 1895, Frances Willard, líder do Movimento Cristão Feminino, escreve um livro que tem o objetivo de incentivar aquelas que desejavam aprender a arte de andar de bicicleta. Livro é entitulado “A Wheel Within a Wheel: How I learn to Ride a Bicycle.
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Note-se que a autora já tinha idade bastante avançada quando aprendeu a andar de bicicleta, porém, muitas de suas observações, especialmente as relacionadas a vestimenta apropriada para a prática do ciclismo, foram rapidamente absorvidas por outras mulheres e se inicia mais uma onda de mudanças no mundo feminino.
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Com a independência no transporte diário, as mulheres tornam-se notícia em várias colunas. Em 1895 um jornal americano publicou a seguinte matéria:
“Ela está pedalando para a grande liberdade e está cada vez mais próxima da igualdade com os homens, está tomando conta de si mesma e tem novas visões com relação vida.”
Paralelamente a está revolução, também se inicia a transformação da Safety Bicycle para nas primeiras motocicletas movidas à vapor, para muitos, uma transição natural. Em 1894, Hillebrandt & Wolfmüller, iniciam a produção da primeira série de veículos chamados, motocicletas!
Em 1903, Harley Davidson vende 3 motocicletas, as primeiras! As    mulheres passaram a utilizar as motocicletas da mesma forma que utilizam as bicicletas. São econômicas e divertidas e são aceitas igualmente para homens e mulheres. Posteriormente houve uma triste mudança nesta visão, mulheres motociclistas passaram a ser chamadas de foras da lei e isto fez com que o público feminino se retraísse do meio. Alguns nomes fizeram história no motociclismo desde o início, Effie Hotchkiss pilotou de New York à San Francisco em 1915, ida e volta, fazendo um caminho de mais de 14.000km.
Dois anos depois as irmãs Adeline e Augusta Van Buren também realizaram uma viagem transcontinental de 8.800km que durou quase 60 dias.
Outro nome muito significativo entre as pioneiras foi Bessie Stringfield, mais conhecida como a Motorcycle Queen of Miami, que atravessou o país, sozinha a 8 vezes.
Dot Robinson, pilotou e competiu nos anos 30, 40 e 50 e se atribui a ela a abertura das portas da pilotagem competitiva organizada para mulheres.
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Dot Robinson foi a primeira presidente da Motor Maids!Pioneiras_17
Em 1928, Betty e Nancy Debenham escrevem o primeiro livro dedicado a mulheres motociclistas, “Motor-Cycling for Women”, as irmãs narram suas aventuras e experiências, ensinam quais são as roupas e proteções apropriadas, como limpar óleo debaixo das unhas, como proteger-se do frio e dicas de pilotagem enfatizando o lado correto da estrada a pilotar-se. O livro ainda concentra um grande número de tópicos como, passeios de final de semana, aprendendo a pilotar, como escolher sua motocicleta, viagens longas, etc. Os Editores viram nesta obra um grande potencial e por isto decidiram pública-la. Nesta época, qualquer um podia pilotar uma motocicleta sem fazer qualquer teste ou utilizar capacete. Bastava ser maior de 14 anos. Ainda nos dias de hoje, este livro oferece uma leitura divertida e interessante sobre o motociclismo feminino no passado e alguns tópicos ainda são atuais.
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Estes são apenas alguns nomes, mulheres de grande coragem, que enfrentaram dificuldades e preconceitos, tudo em nome daquilo que acreditavam e que lhes dava grande prazer, verdadeiras heroínas. Em 1940 cria-se o primeiro clube de mulheres motociclistas nos EUA, o “The Motor Maids.”
Ao mesmo tempo, na Europa e Austrália outras mulheres se destacavam no motociclismo.
Lamentavelmente as convenções sociais caíram sobre esta fantástica liberdade e acontece um retrocesso no motociclismo feminino. Num período que engloba quase 50 anos de história, houve um afastamento causado por rótulos aplicados a mulheres que pilotavam, indicando que seriam mulheres masculinizadas, de pouco respeito, etc. Os clubes continuaram a existir e incentivar a classe feminina, mas foi somente a partir dos anos 90 que houve um rompimento de barreiras e o motociclismo feminino toma fôlego novamente. Muitos atribuem este ressurgimento a diminuição da dependência financeira e a uma geração de mulheres que passa a ser incentivada a perseguir carreiras e interesses pessoais acima do convencional. Nos dias de hoje a comunidade feminina se espalha por todo o mundo e cresce a cada dia. Podemos acompanhar passo a passo, histórias de viagens solo pelo mundo, acompanhar mulheres incríveis que se se destacam em competições duríssimas com o Dakar e através das redes sociais podemos incentivar umas as outras. Ainda existe uma separação entre homens e mulheres no que diz respeito aos clubes de motociclismo, temos grupos somente masculinos, somente femininos e grupos que aceitam os dois. Mas, aqui vem a surpresa, mais e mais homens que desejam filiar-se a algum grupo, buscam grupos mistos. De tudo isto o mais importante é sabermos que somos parte da história do motociclismo desde o início e somos muito capazes de dominar essas máquinas poderosas. Quero deixar claro que não existe a necessidade de filiar-se a nenhum clube ou associação para curtir muito a sua motocicleta. Basta desejar ter o vento no rosto e buscar os caminhos que te fazem bem!
MM

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